“Mas como assim energizar a sombra?”- Me parece uma pergunta adequada, uma ponte para elaborar sobre o que estou chamando de “a sombra no corpo”. ⠀

A criança humana, à medida que se desenvolve, atravessa estágios e etapas de amadurecimento que geram certos impulsos e necessidades em direção ao mundo e seus cuidadores, buscando estabelecer um senso maior de integração de si. Cada etapa de desenvolvimento é um desafio rumo a uma integração maior, e um impulso que pode ser acolhido de formas mais ou menos satisfatórias. Estes impulsos podem ser compreendidos como um caminho do núcleo energético e vital da criança em direção a sua expansão e contato maior com o mundo ao seu redor. A forma que estes impulsos são acolhidos, frustrados ou negados define um traço adaptativo de personalidade e um padrão defensivo no corpo. ⠀

Quando um impulso é negado ou frustrado, ele volta contra si. É quando por exemplo uma criança se submete aos desejos dos pais e aprende a sufocar a sua espontaneidade. A necessidade de espontaneidade não desaparece, mas ela volta-se para dentro. Uma reação adequada à experiência de frustração de um impulso muitas vezes é a raiva, que ao ser abafada ou negada, se torna latente, e volta-se contra o próprio organismo. No corpo esta “contenção” ou “supressão” dos impulsos se manifesta de diferentes formas como bloqueios, tensões ou baixa vitalidade no corpo. Se torna uma camada de negatividade latente, “a sombra no corpo”.⠀

Trabalhar essa negatividade latente seria resgatar o fluxo do impulso em direção ao mundo, e na visão bioenergética isso envolve os mecanismos básicos da respiração, carga e descarga de energia. Dar expressão e uma nova direção ao impulso que foi represado. Por isso que a raiva tem uma função restauradora, pois é a capacidade de resgatar um fluxo de vida em direção ao mundo. ⠀

Voltando a Jung, este sempre frisou que a sombra também guarda um aspecto positivo, como um campo de potencialidades não desenvolvidas. É dessa forma que vejo a sombra: a morada de nossa energia bloqueada que, ao ser ativada e expressa (como através da raiva) nos permite resgatar uma conexão amorosa e criativa com o mundo a nossa volta

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