Lembro que no início da minha vida clínica me ocorreu: como seria o momento em que um cliente viesse a falecer? Afinal, é uma relação que pode ser tão intensa e viva como qualquer outra. Apesar de ter lidado com situações de acompanhar clientes em internações graves, foi por conta da pandemia que vim a receber a notícia de falecimento de um cliente muito querido por conta do Covid. Foi rápido, em três semanas uma relação de 4 anos de terapia, carinho e amorosidade se esvai, sem nenhuma chance de despedida. E nesse sentido é como várias outras tristes histórias nesse período: a incapacidade de velar por nossos mortos. ⠀
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Lembrei que no início da pandemia tive a chance de falar sobre a morte num episódio do podcast do amigo @independesedei , sobre o luto e sobre a impossibilidade do ritual de despedida. Descobri ainda outra dificuldade nesse sentido, dado a natureza particular da relação entre cliente e terapeuta. ⠀
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Em última instância, uma relação terapêutica é uma relação de amor. Apaixona-se por uma história, por uma vida humana que pulsa, por uma relação que se constrói e se enreda em suas particularidades. Nesse processo íntimo, cuidadoso, respeitoso, busca-se trazer à tona certas feridas, e atualizá-las numa relação presente, que tem espaço para uma miríade de emoções sombrias, mas pautadas pelo fio condutor do amor de um ser humano por outro. É um privilégio tocar e ser tocado dessa forma, e sou profundamente grato a essa pessoa tão querida que se foi ter confiado em mim durante todo esse tempo. Que honra, que alegria!⠀
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O luto do terapeuta tem algo de curioso. Constrói-se uma relação tão íntima, mas diferente de outras relações e perdas, não há uma rede de conhecidos com a pessoa que se vai para se partilhar dessa dor. Apesar de eu ter o privilégio de uma rede de pessoas maravilhosas que me apoiam, é uma relação e uma perda que o terapeuta de certa forma vive só, pois é uma relação única, até no luto.⠀
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Reparo o recurso mais básico que me conecta a esse momento: a respiração. O luto é algo que se sente, e a respiração se torna um guia. É respirando que a tristeza vai lentamente se transformando em gratidão. ⠀
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Obrigado, querido amigo!
Ugo Luna
Psicólogo Clínico – Psicoterapeuta Corporal
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