Afinal, o que muda com a terapia?

Aquela imagem clássica que vemos em filmes e séries: o cliente chega na sessão, coloca-se numa distância razoável de seu analista e deita no divã. O analista, uma figura calorosamente distante, sustenta uma presença neutra- instiga um mistério que faz querer aproximar e se abrir, e também gera certa tensão. Começa um processo de revelar-se, onde aos poucos o cliente revive situações e relações de sua história diante dessa figura, que com breves comentários gera algum incômodo e algum insight. Num processo continuo e árduo, a pessoa sai da análise com uma consciência maior sobre si, sua história, suas relações. A pessoa sai… mudada?⠀
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Esse cenário clássico funciona em muitos casos, sem dúvida. Porém, também não funciona em muitos outros. Há aqueles em que o processo de elaboração pontuada por momentos de insight e conscientização não são suficiente para acessar conflitos profundos inerentes na própria personalidade. A pessoa corre o risco de viver cindida: “sabe-se” muito de si, mas a dinâmica emocional profunda permanece intacta. Muitas vezes, o sintoma básico que leva uma pessoa a buscar ajuda é a ponta do iceberg de um conflito fundado na própria personalidade. É o que em psicoterapia corporal chamamos de caráter: a organização básica de personalidade que se manifesta numa atitude psicológica e um padrão corporal. O caráter pode manifestar um conflito básico na personalidade, origem dos sintomas e do sofrimento.⠀
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Uma terapia que busca tratar conflitos de caráter normalmente funciona de forma bem diferente dos “moldes do divã”. Trabalhar à nível de caráter é trabalhar mobilizando um nível maior de energia, respiração, expressão e movimento. De forma romântica, é um trabalho que envolve certa fé: fé na inteligência primitiva do corpo em aceitar desmantelar-se e recompor-se, em permitir que a vida encoberta por traumas possa fluir novamente pelos tecidos, pela vibração, pelos afetos em direção ao mundo.⠀
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Mas afinal, o que muda? A mudança é vista à olho nu: na presença, vitalidade, segurança em estar apropriado da própria vida emocional. O corpo não mente, é nele que carregamos nossa história e é a partir dele que podemos transformá-la.

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